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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O Bairro da Paz

O Bairro da Paz é um bairro oriundo de uma ocupação e que para o poder público se tornou um problema social por falta de planejamento estrutural, o que não lhe tira o dever de organizá-lo e estruturá-lo. Dessa forma ele já nasce precarizado. Situado em uma área de alto valor especulativo imobiliário, na Av. Paralela, o bairro vem sendo esmagado pelo crescimento dos condomínios habitacionais. Ao visitá-lo é possível perceber que a população em sua maioria de baixa renda, negra e de pequena escolaridade, luta constantemente para manter o seu espaço, tendo que conviver com o descaso dos poderes públicos, que negligenciam as suas necessidades e os seus direitos. Além de serem afrontados com o estigma de um bairro “marginalizado e violento”, contestado por seus moradores que tentam mudar esse preconceito através da conscientização política e luta por melhorias. A análise que se faz a esse respeito é como o sistema capitalista é cruel e segregador. Segundo Cassab a segregação é:
“A espacialização da divisão em classes da sociedade, em que se manifestam as diferenças entre aqueles que podem utilizar grande parte da cidade, e os que usam uma reduzida parcela. O que significa a possibilidade de pensar a cidade como objeto de apropriações diferenciadas, e que se processa o afastamento daquele que não é desejável “. (CASSAB, 2008 apud CASSAB; REIS, 2009).
 
Percebeu-se esse conceito claramente no período em que foi feito essa cartográfia do bairro, tal como a realidade ao seu entorno com a valorização da Paralela, deixando claro que as pessoas que moram na Paralela terão uma apropriação da cidade bem diferente das que estão no Bairro da Paz. 
Para Cassab e Reis (2009) as desigualdades sociais desenhadas no espaço urbano são materializadas pela clivagem entre o espaço e, os grupos que ocupam o mesmo. Nesse sentido a dimensão territorial “cumpre importante papel em sua produção e reprodução, reforçando circuitos e cristalizando situações de pobreza e de destituição” (MARQUES, 2005:42 apud CASSAB e REIS, 2009:148).
Em uma de nossas visitas presenciamos o debate a respeito de uma construção do PAC (praça com quadra poliesportiva) que querem construir no bairro, em decorrência da Copa do Mundo. Nesse contexto, um dos moradores e membro da Associação de Moradores do bairro nos fez um desabafo dizendo que o Bairro da Paz nunca teve uma quadra, que as crianças se arriscam brincando nas ruas, e as autoridades de Salvador nunca atenderam a essa demanda da população. Como a Copa do Mundo é um evento que atende aos interesses dos capitalistas e a Av. Paralela por ser um local atrativo para a elite baiana, devido ao seu crescimento habitacional e sua localização próxima ao aeroporto Luís Eduardo Magalhães, escolheram o Bairro da Paz para construção da mesma por estar dentro da visibilidade do evento. Nesse sentido, percebemos que quando não se atende a esses tipos de interesses, se é segregado.
De acordo com Cassab e Reis (2009), o estabelecimento da pobreza no espaço urbano é fruto do processo de segregação e das desigualdades sociais produzidas e reproduzidas na dinâmica contraditória das relações sociais.
Como resposta a essa situação o Bairro da Paz se organizou. Possui um Fórum Permanente de Entidades e uma Associação de Moradores forte que visa unir forças para lutar contra esse quadro, pois as pessoas trabalhadoras e honestas que vivem lá não aceitam viver nessas condições, eles querem apenas criar seus filhos e um Bairro de Paz.

Fonte: CASSAB, M.A.T. e REIS, J.R.R. Juventude e cidade: um debate sobre regulação do território.Revista PRAIAVERMELHA, Rio de Janeiro, V 19 (2), p.143-154, jul./dez., 2009.